Processos e Procedimentos
Texto de Jean Carlos Azuos
Sesc Copacabana
Rio de Janeiro, 2023.
A exposição deriva de terrenos de escutas coletivas e compartilhamentos entre processos artísticos. Desenha no espaço pontes entre as subjetividades, repertórios, arquivos e cosmo percepções reveladas nas camadas de criação, convivência e aprofundamento dos trabalhos, e concatena as ordinariedades dos materiais às urgências estéticas, plasticidades das pesquisas e seus desdobramentos.
Por rotas distintas, as poéticas nos conduzem paras as superfícies, porosidades e mistérios e adensamentos visuais que rebatem no corpo, gesto, na memória e nas inscrições, estabelecendo rizomas e flertes conceituais entre as diferentes linguagens contemporâneas e suas conformações espiraladas no tempo.
Em torno do mesmo mar, aqui, nomeado de Processos e Procedimentos, navegamos com Vinicius Pinto Rosa na combinação das ferramentas que apontam pensamentos elásticos sobre a mobilidade na cidade e nos atravessamentos distópicos de artefatos sobre simulações corpóreas, que espelham aspectos de vivência, tempo e desejo. Em outra margem, a artista iah bahia nos leva para a interação com seus biomas, formados por vergalhões, objetos, tecidos de ráfia, lonas e esculturas em vidro intencionalmente aproximados no espaço - ecossistema comum - de construções dessemelhantes em contatos e costuras.
A instalação criada por Mapô dá a ver seu arcabouço elementar, os mergulhos nos materiais iminentes de sua pesquisa, como o Wagi, que contamina a imagem, o tecido, com lastros nas outras matérias-primas da composição, conjurando riqueza, abundância e fertilidade. Sedimentando travessias, Ana Hortides remonta as arquiteturas suburbanas, implicadas à sua memória, com e a partir de caquinhos e os vermelhões dos chãos, expressos em formatos orgânicos dados pelo cimento, cerâmica e pigmentos sobre tela, ampliando as conotações imagéticas e simbólicas radicadas nas materialidades, nomeada pela artista de potência política do doméstico.
Nas inquietações das leituras do agora e nas assimilações desse lugar da experiência diante de nós, Silvana Marcelina discute o lugar das subserviências e opressões estruturais da sociedade brasileira. Através da performance, da dimensão instalativa e alegórica de suas propostas estão respostas críticas às relações de trabalho, sociais e suas complexidades.
É no encontro e na relação entre estas ilhas que submergimos visualmente e ancoramos nos encaminhamentos poéticos, por meio de nuances políticas, afetivas, de identidade, das dissidências e outras significações, que configuram essa instigante mostra. Um arquipélago polissêmico e permeado por rastros visuais, experiências vitais e grandes descobertas.
Jean Carlos Azuos
[Fotos Rafael Salim]