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Outras Imaginações Políticas

Curadoria de Luisa Duarte e Pollyana Quintella

Festival Agora, MAM Rio, 2022.

É consenso que vivemos uma época na qual muito ao nosso redor parece entrar em crise: o clima, o capitalismo, a democracia, as gastas epistemologias ocidentais, as falsas promessas tecnológicas. Diante deste diagnóstico, fica evidente a urgência de gestar mudanças profundas no que se refere aos modos de funcionamento da nossa sociedade. Mas é justamente aí que nos vemos diante de outro impasse. Vivemos um momento no qual a imaginação política parece entrar em compasso de bloqueio. Imaginar, isto é, expandir os horizontes negociáveis do possível, é o gesto inicial para que se transforme o por vir. Se as imaginações estão obturadas, como começar a transformar o presente e reverter a trilha que semeia um futuro distópico?


Parte do que origina esse estado de imaginação obstruída não estaria no fato de que há uma linguagem nova que deveria surgir e, no entanto, não surge? Ou seja, uma outra e inaudita gramática que deveria aflorar como uma espécie de motor para a transformação política. É justamente nesta via, a favor de uma imaginação irrigada e de uma linguagem insurgente que o campo da arte entra em cena no Festival Agora. A possibilidade de criação de outros mundos possíveis na esfera da arte a torna um elemento de força singular no que toca a chance de imaginarmos um futuro que não reproduza o rumo que leva ao colapso. Não falamos de uma prática artística que soluciona problemas sociais, mas que, ao seu modo, nos permite ver um pouco além da anestesia do presente, quem sabe recondicionando nossos corpos e modos de ver.


Assim, apresentamos obras de oito artistas residentes no Rio de Janeiro que fazem parte de uma cena emergente da cidade. São elas: Ana Clara Tito, Ana Hortides, Arorá, Darks Miranda, Emilia Estrada, Mariana Paraizo, Panmela Castro, e Tadáskía. Cada uma ao seu modo, elas abordam questões que nos fazem refletir sobre outras imaginações possíveis para a luta pelos direitos no campo democrático e a disputa do espaço público. Algumas questionam as separações entre o público e o privado, o íntimo

e o coletivo, trazendo a casa para o centro da conversa; outras tecem relações entre história, memória e o papel da esfera pública na construção de nossas identidades, atentas às negociações entre eu-e-o-outro, ver e ser visto.


Há ainda aquelas que reivindicam uma leitura mais delirante da realidade, apostando em formas e estruturas em transformação que questionam nossos critérios de leitura do real. Em suma, suas contribuições são fragmentos de especulações ficcionais que resistem a sentidos unívocos, afirmando a vocação polifônica da prática artística no presente. O público poderá ver, ocupando diversos espaços da área externa do MAM-Rio, trabalhos que oscilam entre a crueza e intransigência do corpo e o vigor transcendente dos sonhos, todos apostando no fato de que jogar com a linguagem é um dos modos de não se assujeitar ao fracasso ininterrupto do agora e, assim, irrigar outras imaginações para o por vir – uma tarefa de todos nós.


Luisa Duarte e Pollyana Quintella

[Fotos Rebeca Bartolote e Monara Barreto]

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